O mais antigo documento, que se conhece, relativo ao germe de um núcleo urbano – a petição para a ereção de uma capela – constante do Livro do Tombo da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição das Campinas, não está datado, “o que não deixa de ser lamentável”, segundo a pertinente observação de Teodoro de Souza Campos Júnior que o transcreve em sua excelente monografia sobre a fundação de Campinas. Contudo, não padece dúvida que ela é anterior a setembro de 1772, pois tem a data de 15 de setembro daquele ano o pedido de informação ao pároco de Jundiaí, por parte do Cônego Antônio de Toledo Lara, então responsável pelo expediente da diocese de São Paulo, à qual fora a petição dirigida: “Dizem os inclusos assinados existentes nos limites entre Jundiaí e Mogi-Mirim, que eles, suplicantes, para maior cômodo e bem de suas almas, desejam erigir à sua custa uma capela na paragem chamada Campinas, onde tenham valimento espiritual, se não sempre, ao menos em várias ocasiões que por ali se acharem sacerdotes; o que também justifica se achar na mesma paragem, um cemitério bento para sepultura dos fiéis, que foi concedido por ser notoriamente dificultoso o recurso à sua Matriz, pois não dista menos de dez léguas, portanto, pedem a V. Sa, atendendo tão justa súplica, seja servido no que pedem, na forma do estilo”.

Capela Provisória

O vigário de Jundiaí, Padre Inácio Pais de Oliveira, a quem a petição fora enviada para as necessárias informações, lembrou que a área apontada para a construção da capela era suficiente, se bem que um tanto deserta, e, mais ainda, que os pretendentes eram muito pobres, o que parece não ser correto pelo menos em relação a alguns deles. Eis o texto integral da informação do pároco jundiaiense: “Informei-me de pessoas fidedignas sobre o alegado na petição retro; me certificaram ser o lugar destinado para a capela que pretendem erigir os conteúdos no rol, suficiente, suposto ser a paragem um tanto deserta, e dista desta freguesia dez léguas. As pessoas assinadas no rol, as mais delas pobríssimas, exceto o da cabeceira, que nega ser a firma sua e me disse que à fatura da dita capela não pretende concorrer com cousa alguma, sendo o mais estabelecido naquele lugar; é verdade estar na paragem chamada Campinas um cemitério, ainda que com pouca decência, pelo pouco zelo dos moradores”.

Apesar da informação um tanto pessimista do vigário de Jundiaí – e nem muito correta – apoiados pelo ânimo forte de Barreto Leme, continuaram os moradores do bairro do Mato Grosso a enfrentar todas as dificuldades, até que, em 1773, alcançaram do governador do bispado licença para a construção de sua igreja matriz: “Faço saber que por sua petição me representaram os moradores do Mato Grosso da Vila de Jundiaí que requerendo-me eles, suplicantes, para erigirem uma capela na paragem chamada Campinas, onde pudessem ser socorridos com os sacramentos, dos quais, pela longa distância de sua freguesia, padeciam grave falta, morrendo no decurso de dezoito anos a esta parte vinte e três pessoas sem os sacramentos da confissão e eucaristia, fomos servidos mandar que juntassem escritura de dote de bens de raiz, que rendessem ao menos anualmente seis mil réis para a reparação e fábrica da capela, e como mais fácil achavam erigir nova freguesia, onde são moradores sessenta e uma famílias com trezentas e cinquenta e sete pessoas de confissão, o que tudo se via do rol que juntavam, e que levantariam Matriz com todo o paramento necessário e casa para o Reverendo Pároco; pedindo-me por fim de sua súplica lhes concedesse o deferido e atendendo a esta tão justa como louvável súplica, lhes mandei passar a presente, pela qual lhes concedo faculdade para erigirem a dita igreja no lugar que assinalar o Rev. Pároco da Vila de Jundiaí, que fará a vistoria da paragem que dizem os suplicantes, na forma da comissão para que esse efeito lhes é enviada, com cláusula de que será a Igreja de taipas e pilão ao menos, e coberta de telhas e não ser benta e aprovada sem primeiro se determinar e constituir côngrua suficiente para o Reverendo Pároco que servir a dita Igreja e fábrica dela. Dado nesta cidade de São Paulo, sob o selo das Armas de S. Excelência Reverendíssima, ou sem ele ex-causa, e meu sinal, aos dezoito de janeiro de 1773. E eu, Francisco Leandro Xavier de Toledo Rondon, escrivão da Câmara Episcopal, o escrevi. (a) Antônio de Toledo Lara”.

Cumpridas as determinações da diocese paulistana, veio o vigário de Jundiaí à “paragem chamada Campinas”, para vistoriar e demarcar o local onde deveria ser construída a nova igreja. Seu auto de ‘vistoria e demarcação’ tem a data de 22 de setembro de 1773 e, tal como fora recomendado pelo governador da diocese, especifica as condições para a construção da igreja: “(…) fez o dito Reverendo Juiz Comissário assinalar o lugar para a edificação da dita igreja, pondo no lugar da capela-mór uma cruz, e assinalando o lugar da porta da igreja seguindo o rumo do Sul e demarcando não só o âmbito da capela-mor, o qual tem quarenta palmos de comprimento e de largura trinta e dois palmos; e o corpo da Igreja até o arco do cruzeiro tem de comprimento oitenta e cinco palmos e de largura o corpo da mesma Igreja trinta e dois palmos…”.

A escassez de recursos materiais determinou atraso na construção da Igreja, o que levou nove moradores do bairro do Mato Grosso a endereçarem nova petição à diocese, suplicando, desta vez, enquanto demorassem as obras da Igreja, fosse-lhes concedida licença “para se fazer uma ermida mais à ligeira, com a decência possível, para servir enquanto se não conclui a dita Matriz”. Assinavam esta petição: José de Sousa Siqueira, Francisco Barreto Leme, Domingos da Costa Machado, Francisco Pereira Magalhães, Salvador de Pinho, Luís Pedroso de Almeida e Bernardo Guedes Barreto.

Concedido o solicitado, por despacho do novo bispo de São Paulo, Dom Frei Manuel da Ressurreição, em data de 07 de maio de 1774, um mês depois, a 03 de junho, o governador da Capitania, solícito e prestante, procurou concorrer para que não retardasse ainda mais a inauguração da Igreja, dirigindo-se a dona Inácia Bueno, moradora em Araçariguama, a pedir, de empréstimo, os paramentos sacros de sua capela para serem usados na capelinha pretendida pelos campineiros: “Tendo mandado levantar uma nova povoação nas Campinas do Mato Grosso, da Vila de Jundiaí, onde já há princípios de uma nova igreja com capacidade de se celebrar o Santo Sacrifício da Missa, porém faltam os paramentos necessários para o dito ministério, e porque sei que V. Mecê tem todos os preciosos que serviram na sua Capela da Piedade, eu lhe rogo os queira emprestar por tempo de seis meses, como também o sino maior dos dois que na dita Capela existem enquanto os moradores da referida povoação procuram comprar os ditos paramentos ou enquanto V. Mecê não se resolve a vender os que agora emprestar”.

Frei Manuel da Ressurreição, Bispo da Diocese paulopolitana, consoante suas decisões anteriores, nomeou vigário interino da nova paróquia de Campinas a Frei Antônio de Pádua, a quem coube celebrar a primeira missa a 14 de julho de 1774, data esta considerada, oficialmente, como a da fundação de Campinas. A modesta ermida que deveria servir provisoriamente como igreja matriz foi edificada no local onde se encontra atualmente o monumento-túmulo de Carlos Gomes (Praça Antônio Pompeu, denominação atual). Essa capelinha era estreita e baixa e, segundo a tradição, coberta de sapé, tendo servido de sede da paróquia até o ano de 1781. Consta do citado Livro do Tombo, precioso documento, relatando a ocorrência de julho de 1774, e que julgamos oportuno transcrever, embora seja o mais divulgado dos textos antigos relativos à fundação de Campinas: “Sendo estes sertões trilhados por muitos tempos com a estrada das Minas de Goiás, esteve alguns anos este caminho inculto, e depois vieram aos poucos principalmente taubateanos, a fazer aqui suas habitações por acharem fertilíssimas as terras, e suposto viviam com muita fartura de mantimentos, contudo pereciam fortemente pela falta de sacramentos, sem os quais no decurso de trinta anos faleceram perto de quarenta pessoas; isto por nenhuma causa mais do que pela grande longitude, e distância, em que existiam os moradores de sua Freguesia de Jundiaí; por cuja razão viviam tão aflitos, desconsolados, que muitas vezes sucedeu alcançarem licença para serem desobrigados em seus próprios sítios dos preceitos quaresmais, e para se sepultarem os mortos se fez um cemitério, que serviu até a ereção desta Freguesia (a seguir o relato já mencionado dos esforços para a construção da pequena igreja na qual se celebrou a primeira missa a 14 de julho de 1774). Esta (a igreja) se acha, no presente, coberta de telhas, e espera-se que com brevidade se ponha suficiente conforme o zelo, que tiver o novo pároco, que vier, interpondo a sua diligência e o seu cuidado em pedir esmolas aos viandantes que vão para as minas de Goiás, e por todos os fiéis, que puder, e pelo mesmo povo, lembrando-se que é o seu único emprego o adorno da Igreja, sua esposa, cuja falta faz que se vejam os Templos de Deus arruinados e os ornatos e mais alfaias indignas de servir com a devida decência; e, sobretudo, tenham fé em Deus, que nada lhes há de faltar. Esta freguesia principiou-se sem haver um vintém e até agora se tem gasto para cima de setecentos mil réis, e nada se deve; assim assista-nos o Divino auxílio, que por meio da diligência que há de sempre ir em aumento, principalmente ajuntando-se muita gente, o que é verossímil, acabada a Matriz”.

Primeira Matriz

A narrativa transcrita aborda dois pontos significativos para os primórdios não só da vida religiosa, mas da própria comunidade: a importância das relações com as “minas de Goiás” (elemento precípuo na origem de Campinas) e a necessidade de uma nova igreja “definitiva”, deixando claramente entendido o caráter de provisoriedade da capelinha onde se celebrou a missa “da fundação”, em 1774. O autor do relato já menciona a nova igreja como quase pronta, como que apenas à espera do novo pároco.

É importante lembrar o quanto os moradores da povoação dependiam dos viajantes que percorriam as rotas da mineração. Jamais poderiam dispensar os “campineiros” essa colaboração. Enorme era a sua pobreza, diz o texto transcrito. Nem um vintém puderam dar para o início das obras da nova igreja; e os setecentos “mil réis” que foram gastos, à custa de enormes sacrifícios angariados posteriormente, puderam ser pagos relativamente em pouco tempo, sem que credor algum os pudesse aborrecer.

Embora não totalmente concluída, a nova igreja foi inaugurada a 25 de julho de 1781, sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição das Campinas, conforme consta do termo lançado no primeiro Livro de Tombo, que acrescenta, ainda, que a 26 do mesmo mês, “se transladou a imagem da Padroeira da primeira capela para esta Igreja nova com aquela solenidade que permite esta limitada e pobre Freguesia”, assinado pelo vigário Frei José do Monte Carmelo Siqueira. Como bem ponderou Souza Campos Júnior, “estava enfim realizado o sonho de Barreto Leme e de todos os moradores da Freguesia das Campinas. A inauguração da sede de sua igreja-matriz significava para todos eles um grande acontecimento e uma conquista. Era um marco de progresso e civilização plantado na terra campineira”.

Localizada num dos extremos de extensa praça, hoje denominada “Bento Quirino”, tornou-se um símbolo da cidade, pois em seu recinto realizaram-se daí por diante as manifestações não apenas religiosas, mas também cívicas, que passaram a marcar a vida da incipiente freguesia e depois vila. Nela realizaram-se, para exemplo, as grandes solenidades da aclamação do Imperador Dom Pedro I, a 12 de outubro de 1822. E até meados do século XIX em sua nave eram sepultadas pessoas gradas, falecidas na localidade, a começar pelo próprio fundador de Campinas, Francisco Barreto Leme. Uma lápide assinala, hoje, o acontecimento. Apenas, talvez por má informação, o autor da lápide atribuiu a Barreto Leme a qualidade “bandeirante”, coisa que ele nunca foi…

Pode-se afirmar que com a inauguração e desenvolvimento desta nova Igreja, transformada hoje na grandiosa Basílica de Nossa Senhora do Carmo, encerra-se este nosso capítulo inicial sobre os “primórdios da vida religiosa de nossa cidade”.

Daí por diante, e por quase um século, a que foi posteriormente denominada “Matriz Velha” assinalou por todas as formas a vida da cidade, em tudo aquilo que pode se relacionar com o desenvolvimento religioso e social de uma comunidade. Orgulha-se a igreja de uma circunstância curiosa: numerosos dentre os seus vigários, quase dez, foram distinguidos com as honras episcopais, honrando e dignificando diversas dioceses do Brasil, inclusive a própria Campinas, pois dela saiu seu primeiro bispo, Dom João Batista Correia Nery, como veremos na devida ocasião.

Uma relação completa, até a divisão da paróquia, com as respectivas realizações dos vigários da “Matriz Velha” poderá ser encontrada na monografia “Pro Aris et Focis”. Não vemos necessidade de transcrevê-la na íntegra, mas parece-nos conveniente ressaltar os mais significativos dentre eles: Frei José do Monte Carmelo, a quem coube o início das obras, inaugurando-a, embora não totalmente concluída, a 25 de junho de 1781; Padre Joaquim Gomes, com longo paroquiato (de 1795 a 1821), tornou-se o primeiro “vigário colado”. A mais importante ocorrência de seu longo paroquiato, embora não de natureza religiosa, mas civil e administrativa, mas à qual a Igreja não permaneceu ausente, foi a série de medidas tomadas em fins de 1797 das quais resultou a elevação da Freguesia à condição de “Vila”, com a instituição do respectivo poder municipal, independente do de Jundiaí. Cuidaremos em breve deste importante evento. Continuemos, por ora, a referência aos antigos vigários; Padre Joaquim Anselmo de Oliveira (1832-1836 ou 37), deixou fama de grande orador; espírito liberal, manifestou tendências abolicionistas, o que parece ter desagradado os fazendeiros locais; a ele coube batizar Carlos Gomes, em julho de 1836; Padre João de Almeida Barbosa (1838 a 1855): em seu paroquiato ocorreu a revolução de 1842 (que praticamente terminou em Campinas, com o combate da “Venda Grande”), a elevação de Campinas à categoria de cidade, também em 1842 e a primeira visita do Imperador Dom Pedro II, em 1846; Padre José Joaquim Vieira (de 1860 a 1864), natural de Itapetininga, elevado ao episcopado com função no Ceará, voltando, depois, para Campinas, onde realizou importantes obras, inclusive a Santa Casa de Misericórdia.

Matriz de Santa Cruz

Mais para o fim do século XVIII, o desenvolvimento de Campinas cuja economia tinha por base a cana-de-açúcar e a agricultura de subsistência, levou seus moradores a solicitarem ao governo da Capitania a elevação à categoria de “Vila”, desmembrada da de Jundiaí. Na estrutura administrativa da época a criação da vila implicava a instituição do poder municipal. Alegavam os campineiros o valor de seus rendimentos, o número de suas lavouras e o fato de serem quase todos “engenheiros”, isto é, proprietários de engenhos, o que lhes trazia grande prejuízo em terem de servir à Câmara de Jundiaí. A petição, assinada por quarenta e sete moradores, foi avalizada pelo pároco da Freguesia, o que lhe deu mais acentuada credencial.

Antônio Manuel de Melo Castro e Mendonça, o novo governador da Capitania de São Paulo, ao qual se dirigiram os campineiros, considerando justa a petição, houve por bem atendê-la por provisão de 04 e portaria de 16 novembro do mesmo ano de 1797. A portaria determinou, entre outras medidas, para a instalação da vila, que ela passasse a denominar-se “São Carlos”. As conjeturas acerca do novo nome são várias: homenagem a uma princesa lusitana nascida poucos meses antes; homenagem à própria esposa do Príncipe Dom João, Dona Carlota Joaquina, ou em honra de São Carlos Borromeu, de quem o governador Melo Castro parecia ser devoto e cujo onomástico se celebra a 04 de novembro, data da provisão. O que se sabe, todavia, é que o nome imposto a Campinas não “pegou”, sendo usado apenas em documentos oficiais. E segundo o depoimento do viajante francês Saint-Hilaire, até em atos oficiais o nome Campinas frequentemente aparecia. Só em 1842, ao ser elevada à categoria de “cidade” foi a denominação Campinas restabelecida. É importante não confundir – como muita gente menos avisada o tem feito – com a atual cidade de São Carlos, que é de fundação bem mais recente.

Mais cedo talvez do que se poderia esperar, ocorreu o inevitável: a divisão da paróquia, como decorrência do desenvolvimento da urbe que contava já cerca de trinta mil habitantes. Muita celeuma provocou esta ideia da divisão, que acabou se concretizando com o ato do presidente da Província, Dr. Antônio Cândido da Rocha, de 18 de abril de 1870. Em seu artigo primeiro, dizia simplesmente, sem qualquer “considerando”: “Fica dividida em duas paróquias a única de Nossa Senhora da Conceição de Campinas”. E em seu artigo quarto acrescentava: “A paróquia do lado do Norte terá a denominação de Paróquia de Santa Cruz de Campinas e por sede a atual Matriz Velha; a do Sul se denominará Nossa Senhora da Conceição de Campinas e terá por sede a nova matriz, e enquanto esta não se concluir, servirá de matriz a Igreja do Rosário”. O artigo segundo dispunha sobre as divisas das duas paróquias, divisas que, aliás, sofreram pequenas modificações pouco depois.

Informa Jolumá Brito no segundo volume de sua História de Campinas (p. 143) que o vigário capitular da “Matriz Velha”, em provisão de 15 de abril de 1871, atendendo a uma representação que lhe foi dirigida, declarou padroeira da freguesia de Santa Cruz Nossa Senhora do Monte Carmelo ou Nossa Senhora do Carmo, autorizando o pároco a receber a imagem que, para esse fim, tinham oferecido os irmãos terceiros e mais devotos da mesma Senhora.

A confusão que muitas vezes se faz, nos primeiros tempos, com as denominações “Santa Cruz” e “Nossa Senhora do Carmo” tem impedido, na apreciação da crônica eclesiástica, que se tenha uma linhagem por assim dizer “histórica”, pois alguns cronistas menos avisados tomavam às vezes uma pela outra. Nem a divisão inicial da paróquia, a que já nos referimos, contribuiu para evitar a confusão, ainda mais que esta divisão foi alterada pouco depois.

Uma das igrejas que posteriormente veio a constituir-se paróquia foi a do Rosário, outra igreja de grande individualidade e importância na crônica religiosa campineira. Construída primitivamente em taipa de pilão por iniciativa do Padre Antônio Joaquim Teixeira de Camargo, foi inaugurada, ao que se afirma, em 1817 para ser sede da segunda Irmandade de homens pretos, dissidentes da Irmandade de São Benedito. Como simples capela, ainda, fizeram-se nela, mais para meados do século, melhoramentos para que ela estivesse em condições de receber Dom Pedro II e sua comitiva imperial, em sua primeira visita a Campinas, em 1846.

Largo do Rosário e Matriz Nova ao fundo

Mais para o fim de século, com a Matriz Nova (a Catedral de hoje) ainda em construção, a modesta Igreja do Rosário ocupou provisoriamente o seu lugar como paróquia. Todavia, a conclusão da Igreja e sua solene inauguração só ocorreram em setembro de 1899. Desde pouco antes (1895) passara a Igreja a ser administrada por missionários claretianos, procedentes da Espanha (Barcelona). Concluída no seu todo, em 1913, passou essa Igreja a despertar interesse não só da população como dos visitantes. Teve ela muita importância na delimitação urbana da cidade, inclusive com a denominação “do Rosário”, dada à praça em que se situava e à própria rua em que fora construída (a grandiosa avenida Francisco Glicério de hoje). E apesar do largo ter oficialmente o nome de “Visconde de Indaiatuba”, todo o mundo o conhece por Largo “do Rosário”, mesmo atualmente quando a igreja não mais existe nesse local.

De fato, com a reforma urbanística porque passou Campinas na década de 30 do século passado, sob a orientação de Prestes Maia, foi a igreja sacrificada para o alargamento da rua em que ela se situava. No dia 09 de maio de 1956 foi assinada a escritura definitiva da desapropriação da Igreja do Rosário e dias depois, sob protestos, começaram a demolição.

No local da igreja situa-se hoje a Praça Guilherme de Almeida, mas, como dissemos, o nome de “Rosário” continua na antiga praça fronteira, até hoje o centro cívico de Campinas. E uma nova igreja “do Rosário” foi construída nos loteamentos do Chapadão, na importante via que serve de “espigão” para Campinas e que tem o nome de Francisco José de Camargo Andrade. E em 1965, no dia 28 de outubro publicou-se o decreto de criação da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário, já em sua nova sede, tendo como primeiro pároco o Padre Artidório Aniceto de Lima (CMF).

Texto do Prof. Dr. Odilon Nogueira de Mattos
Publicado no livro Arquidiocese de Campinas: Subsídios para a sua História


Veja mais em história