Dom Francisco de Campos Barreto †
2º Bispo de Campinas - 1920 a 1941 - Bispo de Pelotas, RS
Nasceu no Arraial dos Souzas, em Campinas, no dia 28 de março de 1877, filho de Joaquim de Campos Barreto e de Gertrudes Leopoldina de Morais, família tradicional da cidade. Tinha como irmãos João, Anna, Jesuíno, Ludovina e Aníbal. Foi batizado pelo Padre Francisco de Abreu Sampaio, na Matriz de Santa Cruz (hoje Basílica Nossa Senhora do Carmo), no dia 21 de abril de 1877, tendo como padrinhos José Francisco de Morais e Emília Corrêa de Morais.
Foi matriculado ainda muito novo na escola mantida pela sociedade Luiz de Camões, onde fez seus primeiros estudos. Nesse tempo
começava o vicariato do então Padre João Nery na Matriz de Santa Cruz, onde Francisco de Campos Barreto freqüentava a Escola de Coroinhas e onde foi acólito.
Manifestando desde cedo vocação para a vida sacerdotal, em setembro de 1890 foi matriculado no Seminário Episcopal de São Paulo. Durante sua estada no Seminário foi secretário de Dom Joaquim Arcoverde, o primeiro Cardeal Brasileiro, Bispo de São Paulo, e foi, também, mestre de cerimônias da Catedral.
Ordenado sacerdote no dia 22 de dezembro de 1900, na Catedral de São Paulo por Dom Antônio Cândido de Alvarenga, começou seu trabalho como vigário da pequena e recente paróquia de Vila Americana. De maio de 1903 a dezembro de 1904 foi Pároco no Arraial dos Souzas. Em 1904 foi transferido para a Matriz de Santa Cruz, sendo o seu 5º Vigário.
De espírito ascético, formado na escola da meditação e do silêncio, fundou a União de Santo Agostinho, sociedade de homens católicos que se dedicavam à propaganda, A Associação das Mães Christans, reunião de senhoras católicas, a Liga do Menino Jesus, sociedade de moços e crianças. Ao mesmo tempo publicava o Mensageiro parochial e o livro Egreja Catholica e o Protestantismo. Criou a Ordem Terceira do Carmo, da antiga Irmandade do Santíssimo Sacramento de Santa Cruz e fundou o Collegio do Sagrado Coração. Foi um dos grandes batalhadores pela criação do bispado de Campinas.
No dia 09 de março de 1908, o Santo Padre, Papa Pio X, lhe conferiu o título de Monsenhor e de Camareiro secreto, extra-numerário. Instalada a Diocese de Campinas, foi nomeado por Dom Nery como Cônego Arcipreste (chefe dos padres de um clero) do cabido diocesano, ocupando o cargo de Procurador da Mitra, além de outras Comissões na administração do bispado, entre elas a de Examinador Prósinodal, Substituto do Presidente do Tribunal Eclesiástico e Examinador dos novos sacerdotes.
No dia 12 de maio de 1911, através da Bula Papal
Dilectis filiis erigendo, foi nomeado para primeiro Bispo da nova Diocese de Pelotas, no Rio Grande do Sul. No dia 25 de maio, ao meio dia, no Palácio Episcopal, fez a Profissão de Fé e o juramento de fidelidade à Igreja a Dom João Nery, por delegação recebida da Santa Sé. Sua Ordenação Episcopal foi na Catedral de Campinas, em 27 de agosto de 1911, por Dom João Batista Corrêa Nery, Bispo de Campinas, Dom Antônio Augusto de Assis, Bispo de Pouso Alegre, e por Dom Sebastião Leme da Silveira Cintra, Bispo de Orthosia e Coadjutor do Rio de Janeiro. Seu lema Episcopal era
Dominus Regit Me – O Senhor me Governa. Dom Barreto assumiu a Diocese de Pelotas no dia 21 de outubro de 1911.
Na nova Diocese, Dom Barreto teve que criar tudo, vencendo inúmeras dificuldades, algumas criadas pelo próprio clero local, ligado à Maçonaria. Vencendo todos os obstáculos, conseguiu Dom Barreto desempenhar com louvor sua missão pastoral. Durante seus nove anos como Bispo de Pelotas, publicou 17 Documentos Pastorais diversos. Em janeiro de 1912 criou o retiro espiritual para o clero e estabeleceu, depois, conferências para os fiéis na Catedral de São Francisco e em vários locais. Dissiminou e fiscalizou por todas as Paróquias o ensino do catecismo, dando origem à criação de uma casa de missões para a Diocese. O trabalho desenvolvido por Dom Barreto à frente da Diocese de Pelotas foi intensa, atingindo, dinamizando e intensificando a vida religiosa daquela região.
No dia 30 de junho de 1920, foi transferido para a Diocese de Campinas, através de ato assinado pelo Papa Bento XV. Dom Barreto tomou posse da sua nova Diocese em 14 de novembro de 1920.
Em Campinas, publicou 15 Cartas Pastorais. Reorganizou a imprensa Diocesana, com a fundação da “A Tribuna” que chegou, no ano de sua morte, a ter 5000 assinaturas. Fundou o “Amigo do Clero”, uma publicação periódica de cultura eclesiástica. Organizou e regulamentou todos os departamentos da Cúria Diocesana. Fez o regulamento da Ação Católica que possui em todas as Paróquias uniformemente as Irmandades do Santíssimo, o Apostolado da Oração, as Filhas de Maria, os Marianos, a Congregação da Doutrina Cristã, a Liga do Menino Jesus, a Liga de São José para as vocações e o Conselho Paroquial de Ação Católica. Organizou o regulamento da Semana Eucarística, que acontecia a cada cinco anos nas Paróquias da Diocese.
Tanto em Pelotas como em Campinas, estabeleceu a adoração perpétua ao Santíssimo Sacramento, exposto por turno diário nas várias Capelas da Diocese. Mandou fundar as Congregações Marianas e Pias Uniões em todas as Paróquias.
Fundou, juntamente com Madre Maria Villac, o Instituto das Missionárias de Jesus Crucificado, religiosas que mantêm trabalho pastoral em diversos países do mundo. Fundou, também, o Carmelo de Santa Teresinha, onde religiosas se ocupam da santificação própria e da oração pelas conversões. Reorganizou, reformou e deu Constituição à Congregação das Irmãs Franciscanas, trazendo para Campinas o seu Noviciado, onde ainda hoje funciona o Colégio Ave Maria. Fundou o Pensionato Lourdes e o Asilo de Órfãs, entregues às Franciscanas.
No seu governo foi construído o Palácio Episcopal; o Seminário Diocesano; aumentou a capacidade do Ginásio Diocesano (Colégio Pio XII); adquiriu o Palácio da Cúria Diocesana; fundou a Academia de Comércio São Luiz; construiu o Patronato São Francisco, escola profissional feminina que foi doada às Franciscanas; construiu o “Lar Sacerdotal” oferecido aos padres mais idosos; construiu o novo Seminário Diocesano (onde é hoje o Colégio Dom Barreto); o Noviciado das Missionárias de Jesus Crucificado (hoje Casa de Nossa Senhora, na Av. da Saudade) e construiu e doou inúmeros imóveis com seus próprios recursos financeiros.
Em 1928, cumprindo seu dever, protestou publicamente contra o procedimento do Vice-Presidente da República, Fernando Melo Viana, que civilmente casou-se em Campinas com D. Clotilde de Souza Elijalde, uma senhora já casada na Igreja. Este fato provocou, por parte de amigos do Vice-Presidente, muitos agravos e injúrias contra Dom Barreto. Um vereador da Câmara de Campinas afirmou que a senhora era proprietária da Catedral, o que levou Dom Barreto aos tribunais, vencendo o processo.
Durante o período da Revolução em 1930, Dom Barreto foi convidado a celebrar Missa e dar comunhão aos reservistas de Campinas que iam para a luta. Seus inimigos aproveitaram a ocasião para afirmar que Dom Barreto induzia os jovens a partir. Levantadas estas calúnias, um bando de homens exaltados assaltaram, depredaram e saquearam seu palácio, na noite de 24 para 25 de outubro. Avisado do que iria acontecer por seu amigo, Dr. João Penido Burnier, Dom Barreto foi levado para o Instituto Penido Burnier onde pernoitou. Na manhã seguinte seguiu para São Paulo, onde ficou até o dia 05 de novembro. Voltando para Campinas, manifestou-se perdoando os agressores e continuando normalmente seu trabalho.
Outro fato marcante na vida de Dom Barreto aconteceu em 1931. Cumprindo o testamento de D. Anna Pinto Freire, mandou construir o “Asilo Sant’Ana”, hoje o “Aprendizado Doméstico Sant’Ana” e o entregou à direção das Missionárias. Pretensos herdeiros desta senhora moveram um processo contra o Bispo para anular o testamento e reaver os bens deixados para o Asilo. Intimado a comparecer ao Tribunal, Dom Barreto compareceu à presença do Juiz. Por votação unânime, o Tribunal de Justiça deu ao Bispo ganho de causa.
No dia 14 de agosto de 1941 chegou a Belo Horizonte para a inauguração da cidade Ozanan, uma obra de assistência aos pobres dirigida pelas Missionárias de Jesus Crucificado, acompanhado de seu Secretário Particular, Padre Antônio Mariano de Camargo. Passados alguns dias, não se sentindo bem, antecipou sua viagem de volta, sofrendo bastante durante o longo percurso até Campinas. Chegou a Campinas no dia 20 de agosto de 1941, com o quadro de pneumonia dupla e uremia. Recolhido aos seus aposentos no Palácio Episcopal, entregou-se aos cuidados médicos dos doutores Manoel Dias, Azael Lobo, Armando da Rocha Brito e de seu sobrinho, vindo de São Paulo, Dr. Flávio Magalhães de Campos. Todos os recursos da medicina foram empregados, embora sem nenhum resultado.
O Padre Mariano, ciente da gravidade da doença, avisou o Arcebispo de São Paulo, Dom José Gaspar de Afonseca e Silva, que imediatamente veio a Campinas. Na presença do Sr. Arcebispo, foram administrados os últimos sacramentos pelo Vigário Geral, Monsenhor Luiz Gonzaga de Moura. Estava presente, também, representando todo o povo campineiro, o Sr. Prefeito, Lafaiete Álvaro de Souza Camargo. Dom Francisco de Campos Barreto, em meio a comoção geral, disse: “Não tenho medo de morrer, porque espero estar na graça de Deus. Professo ter vivido e querer morrer no seio da Santa Igreja Católica e deposito a profissão de fé nas mãos do Sr. Arcebispo. Procurei sempre cumprir meu dever e agir com reta intenção, mas se porventura magoei a alguém, peço que desculpe e perdoe”. Dom Barreto faleceu às 22h52 do dia 22 de agosto de 1941, no Palácio Episcopal.
Após sua morte, na sala do Palácio Episcopal, reuniu-se o Cabido Metropolitano para as providências necessárias. No dia seguinte, Monsenhor Luiz Gonzaga de Moura foi eleito Vigário Capitular da Diocese.
Seu sepultamento se deu no dia 23 de agosto, na Cripta da Catedral Metropolitana de Campinas. Por ocasião dos 25 anos de seu falecimento, no dia 22 de agosto de 1966, e fazendo cumprir o seu Testamento, seus restos mortais foram trasladados para o Mausoléu da Casa Generalícia das Missionárias de Jesus Crucificado.